Blog MarvoxBrasil 10 Anos [Final]

Na 2ª parte deste especial, contei como aconteceu a minha transição dos 8-bits para os 16-bits, e as experiências que tive durante a adolescência que conseguia unir vários grupos com diferentes videogames.

Se você chegou agora e não pegou o início, recomendo não continuar este texto e acesse aqui a Parte 1 e a Parte 2.

E para você que está sincronizado comigo vamos continuar, a partir de agora estamos prestes a entrar em um momento de verdadeira guerra com as mudanças que fizeram aquele prédio ficar fragmentado em vários grupos. Uma questão pairava no ar – Nintendo ou Sony, e aí, qual lado você escolheria?

Acompanhe a última parte do especial – 10 Anos do Blog MarvoxBrasil!


 

Cada ano, da década de 1990, aconteciam mudanças marcantes que até hoje muita gente não consegue esquecer. Foi a “Década das Mudanças” de: costume, tecnologias, e comportamento. O que era underground, ou até então, não era tão aberto para o grande público nos anos 80, por exemplo, estilos musicais que nem sequer tocavam em rádios, aparelhos eletrônicos, computadores, tornaram-se populares a medida que os anos 90 caminhavam.

Nos anos 80, ter um computador era caríssimo, no entanto, na metade dos anos 90 com a chegada do Windows 95, o computador tornou-se uma ferramenta importante dentro dos lares brasileiros.

Lembro muito que no colégio tinha aula no laboratório de informática, os alunos tinham a oportunidade de utilizar o computador, e mesmo estudando em escola pública, tinha todo um ambiente de informática naquela época. Durante a aula percebíamos, entre os amigos, quem já tinha algum contato com o computador e quem não tinha.

Hoje o computador e seus softwares estão presentes nos smartphones que carregamos para todo lugar, e usamos a tecnologia de uma forma que nem pensamos que estamos usando um computador, ficou algo muito natural.

Até a metade daquela década, jogar em consoles que usavam fitas/cartuchos ainda era algo super normal, independente se o videogame tinha 8 ou 16-bit, se era o NES ou um Mega Drive. Só que isso mudou muito quando a mídia CD foi incorporada nos consoles, e da mesma forma quando o Windows 95 popularizou os PCs, o PlayStation aproximou a mídia CD dos videogames.

Ainda acontecia mais uma novidade com a chegada da  Internet. Claro que, não do jeito que estamos acostumados com Wi-Fi que conecta em qualquer lugar. Naquele início, usávamos fio de telefone, da parede para o computador, com a linha do telefone fixo da casa, ou seja, Internet ligada era ter a linha do telefone ocupada. Parece coisa de outra dimensão pensar nisso hoje em dia, mas era assim que acontecia.

Com a Internet existiam também os softwares de troca de mensagens, isso que fazemos hoje com Whats App, Telegram ou FaceChat, naquela época existia um programa chamado ICQ, que a gente pronunciava assim – ‘i-cê-quê’ (em inglês, I Seek You, quer dizer, Eu procuro você).

O ICQ foi muito famoso na época, e tinha também a galera do IRC que era outra opção concorrente que também fazia essa troca de mensagens, tudo era novidade.

Para completar esse pacote de lembranças, no fim dos anos 90 tínhamos o Napster, onde pela primeira vez foi possível fazer downloads de músicas no formato MP3. Naquela época a conexão era bem lenta em comparação ao que temos hoje, os downloads demoravam muito para baixar uma simples música, e se quisesse baixar um Videoclipe da sua banda favorita, esperaria uma semana, pelo menos.

Lembro de algumas regras muito curiosas enquanto usava a Internet naquela época:

  • Usar a Internet no domingo era muito mais barato;
  • Fazer download de música durante a madrugada era mais rápido;
  • Nunca usar a Internet durante a semana;
  • A gente dizia: “Vai estar na internet hoje?” Queria dizer se a pessoa vai conectar a internet em casa.

É o que mais lembro e acredito que se você pegou essa época lembrará de muito mais coisas, cada casa/família seguia uma regra. Hoje os smartphones e aplicativos ficam conectados o tempo todo, mas naquela época dentro de casa, ficar conectado tinha hora marcada. E nisso temos também a velocidade das informações que chegavam até às pessoas, não era tão rápido saber de algum detalhe ou alguma notícia.

Quando queria saber alguma coisa sobre videogames ainda utilizava as revistas que traziam informações sobre o assunto com: coberturas da E3 (sempre nas edições de Julho/Agosto), as novidades da indústria, e outras informações que mostravam que os tempos mudavam cada vez mais.

Foi assim que soube que aquele Super Nintendo que tinha recebido de minha mãe já estava com os dias contados.

E naquele prédio onde morava e todos se juntavam para jogar videogames, a partir do momento que o PlayStation e o Nintendo 64 chegaram aconteceu o tal ‘Console Wars’ seguido pela ‘DLC – Friends Wars’.

Os amigos que antes reuniam-se nos aniversários para jogar aleatoriamente pela diversão começariam a discutir: Qual era o melhor jogo? Qual jogo era o mais adulto e o mais infantil? E até davam palpites no videogame que a pessoa tinha em casa.

Demorei um pouco para sair da geração SNES, no entanto, em casa meu pai havia conseguido um computador, modelo 486 onde pude aprender o que fazer no sistema daquela época. Além de fazer alguns trabalhos para a escola, gostava de procurar qualquer coisa no HD, principalmente jogos.

Não existiam lojas digitais, e normalmente quando uma pessoa adquiria um computador era comum encontrar alguns jogos já instalados. O técnico/a loja, instalava esses jogos como uma espécie de brinde pela compra ou para testar mesmo o sistema.

Então era muito comum encontrar no computador jogos como: Test Drive, Doom, Wolfenstein 3D, algum Commander Keen, isso dependia da época que a pessoa comprava o computador. Um fato também que o Windows (3.1/3.11/95) era repleto de jogos divertidos e simples, muitas vezes nem sabíamos o que tinha instalado no HD.

Foi nesses acasos e buscas no HD que conheci Doom, quando procurei nomes de jogos no HD do computador. Naquela época já havia aprendido alguns comandos para digitar, graças ao meu pai, ficava olhando ele mexer e para depois usar sozinho, e com o tempo aprendi a configurar os jogos também.

Foi aí que durante uma saída com uns amigos passamos na banca de jornal e encontramos uma revista chamada CD Expert. Até aquele momento eu acompanhava as revistas SuperGamePower e Ação Games que contavam sobre jogos de consoles, vez ou outra aparecia alguma coisa sobre PC, mas uma revista específica que trazia jogos para testar no computador, isso sim chamou atenção.

Compramos aquela revista e depois fomos testar, ao inserir o CD no drive, uma tela interativa abriu com o nome dos jogos, e ao clicar acontecia a instalação de um jogo escolhido no HD. Só que não era o jogo completo, era tudo Demo ou Shareware, algo muito comum no PC.

Foi nesse CD que guardo até hoje onde pude conhecer outros jogos além de Doom, e gostei demais de curtir um gênero que acompanho até hoje, o First-person Shooter.

Este CD trouxe também Duke Nukem 3D, Quake, Shadow Warrior, Blood, Strife, entre outros, todos ainda em suas versões de Demonstração ou Shareware.

Existia então essa oportunidade de jogar a Demo (isso quando rodava), e para conseguir a versão completa era uma luta, porque não era fácil encontrar jogos de computador à venda nas lojas como acontecia com jogos de Super Nintendo ou Mega Drive. Os jogos de videogames já tinham uma distribuição consolidada, os da Sega eram distribuídos pela TecToy, os da Nintendo vinham pela Playtronic/Gradiente.

No entanto os jogos de PC, muitos deles eram importados e para conseguir, a pessoa tinha que ligar para um distribuidor específico para comprar esses jogos, outros eram distribuídos pela Brasoft e Greenleaf que naquela época já traduziam os jogos para o português, principalmente os da LucasArts. Comprar jogos de PC era como incorporar Carmen Sandiego, no sentido de “caçar” onde esse jogo está sendo vendido.

Só lojas muito específicas de informática costumavam vender esses jogos. A situação mudou quando Revistas como: CD Expert, Revista Senha PC, Computer & Videogames, e a FullGames facilitaram muito a aproximação do jogo completo com o público. A pessoa comprava uma revista que acompanhava o CD com o jogo completo.

Mesmo assim, eu ainda era muito apegado a ter um videogame, aquele SNES já estava saturado, então meu objetivo foi seguir adiante com o Nintendo 64. Só que naquele momento eu não sabia como fazer isso.

Foi aí que um amigo do meu pai estava interessado em um videogame para curtir com o filho e a vontade dele era ter o Super Nintendo, cheguei nele e ofereci o videogame. Lembro que tinha 22 jogos de SNES e foi o único console que resolvi vender. Com o que havia recebido com a venda do SNES faltava ainda o restante para cumprir o objetivo.

Comecei então a oferecer aulas particulares para os amigos e vizinhos que queriam aprender a mexer no computador, e como ter conhecimento de informática era algo que já se fazia necessário no currículo, então acabou dando certo. Ensinava Windows, comandos do MS-DOS, Word e ferramentas que se faziam necessárias na época. Demorou muito para conseguir a parte que faltava para pegar o Nintendo 64, o que viria acontecer só naquele finalzinho de Julho de 1997.

Enquanto isso o ‘Friends Wars’ continuava no Térreo daquele prédio. Foi quando soube que um amigo havia conseguido um PlayStation e chamou todo mundo para conhecer. Naquele momento, a lista de jogos da Sony já estava bem convidativa com títulos que não dava para pensar duas vezes para curtir.

Chegou um momento em que o ‘Friends Wars’ estava tão intenso entre o grupo que só havia um jeito de resolver isso, colocar o PS1 e o N64 lado a lado. Todos se organizaram para trazer o que cada um tinha. A maioria havia migrado para o PS1, e no final, todo mundo combinou de levar a TV com os dois consoles, controles, e cada um trouxe os jogos que podiam. Foi a maior zona que aquele prédio presenciou, nos divertíamos muito!

Começávamos jogando Resident Evil, e no fim curtíamos Mario Party e Mario Kart 64. Tinha hora que parávamos no Driver e cada um tentava passar daquela primeira missão de sair da garagem. Tentávamos passar das fases do Crash Bandicoot, aí depois alguém trouxe 007 Goldeneye e rolava aquele sagrado multiplayer. E não dá para esquecer que Resident Evil 2 no PS1 era um filme para os nossos olhos.

Essa oportunidade de reunir os amigos com os dois consoles em um momento que aquele grupo estava mais preocupado na competição do achismo do que na diversão, foi muito satisfatória. Porque, deu também oportunidade para alguns amigos do prédio que não tinham o PS1 e N64 em casa para conhecer esses videogames. Essas reuniões aconteceram por vários finais de semana até o início da geração PlayStation 2.

Quando a geração N64/PS1 estavam praticamente terminadas, o que vem depois foi uma escolha pessoal de como continuaria acompanhando os jogos. Do ponto que a mídia CD/DVD se tornava cada vez mais comum não enxerguei a necessidade de continuar pelo caminho dos consoles, meu último videogame foi o Nintendo 64.

Eu, assim como vários que gostam de jogar desde os anos 80, tive meu primeiro contato com videogames pelo Atari 2600. Mas, em um momento da vida acabei conhecendo também o universo do MSX, a partir daí surgiu meu interesse por jogos de PC também.

O Blog MarvoxBrasil nasceu da vontade de compartilhar informações sobre jogos de PC, e para um público que também sente falta de um respaldo sobre este universo.

Saudades de todos os momentos dessas lembranças.

7 Comments

  1. Excelente artigo com muita nostalgia, parabéns! Por sinal, percebi dentre as suas imagens uma foto do Tri Action Games (da CD Expert). Por gentileza, se fosse possível, você poderia compartilhar a relação dos jogos demos que esse CD possui? Há um tópico na Outerspace com uma planilha online dedicada a inserção dos nomes desses jogos demos, e esse é um dos que estão faltando. Sendo possível ou não, gratidão, abraço e sucesso sempre 🙂

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  2. Finalmente tirei um tempo para ler e comentar essa série, muito bacana!

    É engraçado essas realidades diferentes, como você mesmo apontou. Eu mesmo na minha infância tinha meu contato com videogames somente através dos fliperamas, meu primeiro console foi um Super Nintendo na época em que já rolava PlayStation e computador em casa só lá pelos anos 2000. Ainda sim me identifico com muito do que foi falado.

    Parabéns pelos 10 anos de site, abraço!

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  3. Ah, a nostalgia! Como ela é deliciosa e cruel! haha
    Era pré-Windows 95, era Windows 95/98. era pós…
    Internet na era discada… pulso único aos domingos e nos dias de semana da meia noite às 6 da manhã!
    Quantas madrugadas acordado pra ir virado pra escola ou faculdade!
    Turma que eu tinha na Internet (alguns eu tenho contato até hoje) abria aquele chat do ICQ que aceitava várias pessoas e ficava acionando a buzina (CTRL+G) quando estava próximo das 6 da manhã pra galera desconectar, ou a conta de telefone vinha daquele jeito!
    Downloads de músicas, downloads de ROMs, medo de manter as ROMs por mais de 24 horas no PC… pqp! Bons tempos e, ao mesmo tempo, tempos difíceis!
    Cara… CD Expert! Quantos desses eu não botei no meu PC e ficava indignado quando algo não rodava! haha
    Vc lembrou bem da dificuldade de conseguir jogos de PC, especialmente na época MS-DOS e Win95! Diferentemente do que acontecia no PS1!
    Lembro que eu sempre fazia upgrade do PC com um cara que trabalhava com o meu pai (inclusive, meu primeiro PC também foi um 486, não sei se já comentei). Ele sempre instalava mais uns dois jogos pra mim! Altas lembranças!
    Altas lembranças do ARJ também!
    Cara… que nostalgia!
    Ao mesmo tempo, meio triste relembrar a chegada do PS1 e como ele transformou o mundo dos games aqui no Brasil. Fim dos Arcades, das locadoras… galera jogando cada vez menos junta… vida adulta chegando, tempo para jogar diminuindo… é, triste! Mas… saudades de tudo isso!
    Valeu Marvox, baita história esta trilogia!

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